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'Nomadland' é o grande vencedor de uma noite de Óscares com pouco glamour

A obra de Chloé Zhao venceu Melhor Filme, Melhor Realização e Melhor Atriz
A obra de Chloé Zhao venceu Melhor Filme, Melhor Realização e Melhor Atriz, Getty Images

A cineasta sino-americana Chloé Zhao venceu o Óscar de Melhor Realizador por "Nomadland - Sobreviver na América", um dos filmes com maior número de nomeações desta edição, película que também deu a Frances McDormand o Óscar de Melhor Atriz.

Para o Óscar de Melhor Realizador, apenas David Fincher, por "Mank", era repetente. Todos os outros estavam nomeados nesta pela primeira vez: Thomas Vinterberg ("Mais uma rodada"), Lee Isaac Chung ("Minari") e Emerald Fennell ("Uma miúda com potencial"), além de Chloé Zhao.

Chloé Zhao é a segunda mulher a conquistar este Óscar, depois de Kathryn Bigelow, em 2010, com "Estado de Guerra".

"Nomadland - Sobreviver na América", protagonizado por Frances McDdormand, conta a história de uma mulher que viaja pela América como nómada, vivendo numa caravana, trabalhando em empregos temporários e sobrevivendo na estrada, na sequência de uma crise económica.

Embora o filme seja uma ficção, assenta em testemunhos reais de norte-americanos que vivem na estrada, sempre em trânsito, numa comunidade nómada mais envelhecida e nas margens da sociedade.

Chloé Zhao, sino-americana, foi a primeira mulher asiática nomeada para os Óscares e a segunda a conquistar o Óscar de Melhor Realização.

Indicado para sete estatuetas, o filme culmina um percurso de sucesso dos últimos meses, depois de ter arrecadado quatro prémios Spirit, os chamados 'óscares' do cinema independente: melhor filme, melhor realização, melhor montagem e melhor fotografia.

Foi também distinguido nos prémios dos profissionais norte-americanos e, nos prémios BAFTA, da academia britânica de cinema e televisão, a realizadora sino-americana tornou-se na segunda mulher e a primeira asiática a ganhar o BAFTA de melhor realização.

Numa entrevista em 2013, a realizadora declarou que na China "há mentiras por todo o lado". O comentário foi recuperado recentemente nas redes sociais, com internautas nacionalistas a acusarem de traição.

"Sou extremamente afortunada por poder fazer o que gosto", afirmou Chloé Zhao, nos bastidores da cerimónia de entrega dos Óscares, que decorreu esta madrugada em Los Angeles. "Se esta vitória ajudar mais pessoas como eu a viverem os seus sonhos, sou muito agradecida por isto".

"Nomadland - Sobreviver na América" foi o grande vencedor da noite, ao levar para casa as estatuetas de Melhor Filme, Melhor Realização e Melhor Atriz, Frances McDormand.

"Um dos momentos mais felizes para mim esta noite foi quando a Frances ganhou", contou Chloé Zhao aos jornalistas. "As pessoas podem não saber tudo o que ela fez, como produtora e como atriz, quão aberta e vulnerável foi e quanto me ajudou a fazer este filme", afirmou. "E como ajudou os nómadas a sentirem-se confortáveis nas gravações. Ela é 'Nomadland'".

Óscar de Melhor Atriz para Frances McDormand por Nomadland - Sobreviver na América

Frances McDormand conquista o Óscar de Melhor Atriz pelo desempenho em "Nomadland - Sobreviver na América".

Este é o terceiro Óscar conseguido por Frances McDormand, em três nomeações para melhor atriz, depois de "Fargo" (1996) e "Três Cartazes à Beira da Estrada" (2018).

Ao longo da carreira, McDormand teve igualmente três nomeações para melhor atriz secundária, em "Terra Fria" (2005), "Quase Famosos" (2000) e "Mississippi em Chamas" (1988).

Para o Óscar de Melhor Atriz estavam nomeadas Carey Mulligan ("Uma miúda com potencial"), Frances McDormand ("Nomadland"), Viola Davis ("Ma Rainey: A mãe dos blues"), Vanessa Kirby ("Pieces of a Woman") e Andra Day ("The United States vs. Billie Holiday").

Melhor Ator para Anthony Hopkins pelo desempenho em "O Pai"

Óscar de Melhor Ator atribuído a Anthony Hopkins pelo desempenho em "O Pai", de Florian Zeller.

Na representação masculina estavam indicados Chadwick Boseman (a título póstumo por "Ma Rainey: A mãe dos blues"), Riz Ahmed ("Sound of Metal"), Gary Oldman ("Mank") e Steven Yeun ("Minari"), além do protagonista de "O Pai".

O britânico Anthony Hopkins, que não esteve presente na cerimónia, conquistou hoje o segundo Óscar de Melhor Ator, 30 anos após a sua distinção pelo papel em "O Silêncio dos Inocentes", de Jonathan Demme.

O desempenho no filme de Florian Zeller já tinha garantido a Hopkins a distinção dos BAFTA, os prémios da academia britânica de cinema e televisão.

Coreana Yuh-Jung Youn conquistou o Óscar de Melhor Atriz Secundária

A coreana Yuh-Jung Youn conquistou o Óscar de Melhor Atriz Secundária, pelo desempenho em "Minari", de Lee Isaac Chung.

Maria Bakalova, em "Borat Subsequent Moviefilm", Glenn Close, em "Hillbilly Elegy", Olivia Colman, em "O Pai", e Amanda Seyfried, em "Mank", eram as restantes candidatas ao Óscar de Melhor Atriz Secundária.

A atriz nascida na Coreia do Norte, que protagoniza o filme de Lee Isaac Chung, declarou-se contrária ao espírito competitvo e, na aceitação do Óscar, interrogou-se como podia comparar-se a Glenn Close, que teve este ano a sua oitava nomeação.

"Mank", um dos filmes mais nomeados para esta edição dos Óscares, conseguiu os dois primeiros, para Melhor Direção de Arte, que foi entregue a Donald Graham Burt e Jan Pascale, e para Melhor Cenografia, para Erik Messerschmidt.

Melhor curta-metragem para Two Diferente Strangers

"Two Distant Strangers", de Travon Free e Martin Desmond Roe, conquistou o Óscar de Melhor Curta-Metragem.

O filme, produzido pela Netflix, centra-se num homem negro que tenta voltar a casa, mas contrariedades várias obrigam-no a reviver um encontro fatal com um polícia.

Os realizadores recordaram, na receção do Óscar, que todos os dias morrem três cidadãos negros, nos Estados Unidos, na sequência de intervenções policiais.

Citaram o escritor James Baldwin, para lembrar que o pior é a indiferença. "Não sejam indiferentes à nossa dor", pediram.

O filme "Ma Rainey: A mãe dos blues", de George C. Wolfe, também produzido pela Netflix, protagonizado por Viola Davis, candidata a Melhor Atriz, pelo desempenho da cantora de blues Ma Rainey, conquistou os Óscares de Melhor Caracterização e Melhor Guarda-Roupa.

O prémio Jean Hersholt, com que a Academia distingue contribuições para causas humanitárias, foi entregue ao Motion Picture & Television Fund, desta vez com a pandemia em fundo.

O Óscar de Melhor Montagem de Som "Sound of Metal".

Óscares do cinema documental para "Colette" e "My Octopus Teacher"

Os Óscares do cinema documental foram para e "Colette", como Melhor Curta-Metragem, e "My Octopus Teacher", como Melhor Documentário em longa-metragem.

Os outros candidatos a melhor documentário eram "Collective", "Crip Camp", "The Mole Agent" e "Time".

"My Octopus Teacher", de Pippa Ehrlich e James Reed, documenta um ano passado pelo cineasta Craig Foster a forjar uma relação com um polvo selvagem, junto à costa sul-africana.

Para Melhor Curta-Metragem, além de "Colette" estavam nomeados "A concerto is a conversation", "Do Not Split", "Hunger Ward" e "A Love Song for Latasha".

O filme fala de Colette Marin-Catherine, jovem combatente da Resistência francesa contra a ocupação nazi, durante a II Guerra Mundial, que se recusou a visitar a Alemanha, após o final do conflito, em 1945, até ao momento em que o contacto com uma jovem estudante, Lucie, a encoraja a visitar o campo de concentração onde o seu irmão morreu.

Anthony Giacchino e Alice Doyard, ao receberem o Óscar pela curta-metragem, elogiaram a capacidade de resistência à operssão e lembraram o movimento contestatário de Hong Kong.

"Tenet", de Christopher Nolan, conquistou o Óscar de Melhores Efeitos Visuais.