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Portuguesa Mariana van Zeller mostra na TV como pandemia aumentou tráficos ilegais

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A jornalista Mariana van Zeller vai mostrar como a pandemia de covid-19 levou a um aumento substancial dos mercados negros, na segunda temporada de "Na Rota do Tráfico", que se estreia a 18 de dezembro no National Geographic. 

"Durante a pandemia houve um crescimento enorme dos mercados negros globais", disse à agência Lusa a jornalista de investigação, que é a primeira portuguesa a ter um programa em nome próprio no National Geographic, "Na Rota do Tráfico com Mariana van Zeller". 

"Sempre que há uma crise na economia e muitas pessoas perdem o trabalho, têm de recorrer a mercados negros e a outras maneiras de fazer dinheiro para trazer comida para a família", afirmou. "Mal começámos a investigar vimos isso, que tinha havido um crescimento grande no mercado de drogas, no mercado de armas, no mercado de esquemas", sublinhou. 

Nesta segunda temporada, a equipa conseguiu ir mais a fundo nos mercados negros e alargar a abrangência da sua investigação, impulsionada pelo sucesso da primeira temporada. 

"Alargámos a ideia do que são os mercados negros, que não são só bens como armas e drogas", frisou. "Existe um crescimento enorme de um movimento de supremacia branca pelo mundo inteiro, e eu há muitos anos que estava interessada neste tema". 

Esse é um dos episódios mais marcantes da temporada, filmado durante um período conturbado da sociedade norte-americana. 

"Foi a investigação mais assustadora, muito mais que estar num laboratório de metanfetaminas com homens armados à minha volta no México, ou com gangues de motoqueiros", revelou.

"Foi estar frente a frente com um neonazi e um americano que vivia na Sérvia, e perceber o ódio e a raiva que existe aliados a uma completa falta de informação ou a informações erradas que levam a ataques terroristas", continuou. "Foi assustador como americana e como portuguesa, sabendo que estas ideias se estão a disseminar pelo mundo inteiro". 

A investigação levou-os a perceber que a divulgação da ideologia do ódio e da supremacia branca é feita muito em paralelo com os mercados negros tradicionais. "Neste caso, em vez de estarem a vender armas ou drogas, estão a pôr ideias nas cabeças de pessoas, informação errada que leva em muitos casos a episódios piores ainda que a compra de drogas". 

Van Zeller disse que, sendo impossível policiar ideias, usar alguns métodos tradicionais pode ser uma solução. "Uma das coisas que se pode fazer, por exemplo, é o policiamento das armas em grupos onde se sabe que existe um objetivo de destruição e morte". 

Após a primeira temporada, parte do trabalho ficou um pouco mais fácil, porque pessoas que fazem parte destes mercados negros convidaram a equipa a ter acesso. "Por outro lado, tem sido mais desafiante porque pessoas que viram ficam com mais medo de falar, sabendo que é uma série bastante popular, e muitas pessoas veem". 

Entre os temas explorados nesta segunda temporada estão as cirurgias plásticas ilegais, que em muitos casos resultam em morte, os esquemas fraudulentos ligados a romances 'online' -- que cresceram mais de 100% durante a pandemia -- e a pesca ilegal. 

"Foi chocante para mim descobrir que existe muita pesca ilegal, mas ainda mais chocante é saber que a pesca legal ainda é mais preocupante", disse a jornalista. "O que podemos fazer no mar é chocante e está a levar rapidamente à destruição dos oceanos e do peixe", continuou. 

Esse episódio mostrará que "a pesca legal não é sustentável", na forma como está a ser feita hoje, e que "daqui a muito poucos anos vai haver pouquíssimo peixe" em resultado disso. "Não posso estar mais orgulhosa desse episódio, é super importante e, sendo portuguesa, é um episódio que estou contente que Portugal vá ver". 

Van Zeller e a sua equipa também tiveram um acesso sem precedentes à exploração madeireira ilegal na Amazónia, onde estiveram várias semanas. 

"Vimos árvores a serem cortadas que já têm centenas de anos", contou. "Tivemos acesso a esses grupos que estão a desmatar a floresta amazónica e algumas minas de ouro ilegais, também responsáveis pelo desmatamento ilegal da Amazónia". 

Investigada e filmada durante o pico da pandemia, a segunda temporada de "Na Rota do Tráfico com Mariana van Zeller" mostra como esta realidade está por todo o lado. "A melhor maneira de esconder o mercado negro é fazê-lo às claras. É incrível mas é verdade". 

Procurando sempre "humanizar" os entrevistados, van Zeller afirmou que o principal objetivo da série "não é criar raiva nem desconfiança no mundo mas sim criar pontes", porque "só através de pontes conseguimos criar uma sociedade e um mundo melhor".

O primeiro episódio da segunda temporada de "Na Rota do Tráfico com Mariana van Zeller" estreia-se no próximo sábado, dia 18, no National Geographic, às 22:30 (hora de Lisboa).

Cada novo episódio será sempre emitido aos sábados à noite, à mesma hora.