A Interdisciplinaridade da Psicopedagogia e Psicologia
Sibília Reis, psicóloga clínica e da saúde, e Raquel Teixeira, psicopedagoga, explicam a definição de cada área e reflectem sobre a sua complementaridade.
A Psicologia e a Psicopedagogia, sendo competências profissionais diferentes, têm aspetos em comum bem como distintos. O psicopedagogo não só avalia e intervém em situações relacionadas com a educação, participa em processos de aprendizagem assistemáticos, atende as diferentes etapas de desenvolvimento humano, desde a estimulação precoce até a terapia durante a terceira idade.
Este técnico tem como objetivo fortalecer as vulnerabilidades do indivíduo, de acordo com o diagnóstico que o psicólogo concede, através da avaliação de condutas disfuncionais ou instáveis, o diagnóstico de perturbação do foro psicológico/psiquiátrico, questões que são tratadas pelo psicólogo. É um profissional orientado para um conhecimento mais global e ao mesmo tempo mais específico do indivíduo. As suas qualificações são mais amplas atuando nas organizações, na clínica, na educação, na educação especial, passando pelo manejo das emoções e dos pensamentos até à regulação das relações interpessoais.
Apesar dos dois profissionais atuarem em várias áreas, a que será aqui abordada de forma geral é a educação/clínica.
O psicopedagogo debruça-se nos processos de aprendizagem que decorrem ao longo da vida, independentemente da idade da pessoa afetada.
A psicologia tem como objecto o estudo científico dos processos mentais e do comportamento do ser humano e as suas relações com o ambiente físico e social, numa perspetiva biopsicossocial.
É uma ciência estabelecida desde 1879 e nessa data, foi fundado o primeiro laboratório psicológico pelo fisiólogo alemão Wilhelm Wundt - considerado o pai da psicologia. Posteriormente surgem outros autores e variadas correntes marcadas por: Wundt, Thorndike, Watson, Skinner (teoria sobre o behaviorismo), Gestalt, Wertheimer (teoria de Gestalt), Sigmund Freud considerado o pai da psicanálise e Piaget (teoria da epistemologia genética)
A psicologia é uma ciência recente, proposta por Wilhelm Wundt (1832 – 1920) e William James (1842 – 1910). Teve influência da filosofia, biologia e fisiologia, sendo algumas das suas correntes baseadas na filosofia e outras na biologia. A história da ciência psicológica nasce a partir da conceção de ciência que Wundt e James usaram para distinguir a psicologia como ciência, da psicologia como metafísica. As psicologias científicas do século XX afastaram-se definitivamente de psicologias racionalistas e de psicologias empíricas de cunho filosófico. No entanto, o desenvolvimento de várias psicologias científicas do século XX não foi suficiente para conferir unidade à psicologia. Pelo contrário, foi notável uma proliferação de correntes de psicologia assentando todas elas numa ideia comum: a subjetividade da compreensão do funcionamento humano.
Quanto à psicopedagogia, embora os primeiros centros psicopedagógicos tenham sido criados em 1946, por Juliette Favez-Boutonnier e George Mauco, a Psicopedagogia é uma profissão mais recente que foi catalogada formalmente como disciplina a partir de 1992.
Tendo em conta as problemáticas associadas às necessidades escolares, a inexistência de ferramentas/estratégias relacionadas com o ensino/aprendizagem, nos níveis iniciais, surge esta ciência como resposta.
Assim na intervenção Psicopedagógica salienta-se a aquisição de métodos de aprendizagem, o desenvolvimento de estratégias metacognitivas e a estimulação da motivação da criança/jovem no seu contexto familiar, escolar e social. Contudo o psicopedagogo além de intervir na educação também intervém no âmbito da saúde utilizando ferramentas para a melhor adaptação ou desenvolvimento do indivíduo em determinado momento. O psicopedagogo tem a competência de estudar e analisar testes estandardizados e validados por profissionais e toma em conta outros variáveis que podem estar a interferir no indivíduo em questão tal como o meio social, determinada condição física e psicológica.
Por outro lado a prevenção, deteção e tratamento dos diferentes problemas no âmbito da sua área, define-se como o enfoque geral para o exercício das competências deste profissional.
Como é que estas ciências se complementam?
No início o psicólogo ligado à educação encarregava-se de avaliar o desenvolvimento intelectual, social e emocional da criança promovendo a aprendizagem com a implementação de ferramentas distintas ou meios e definindo gradualmente as dificuldades e estratégias para melhorar o sistema educacional – Associação Psiquiátrica Americana.
A partir do momento que se estabeleceu diferenças entre estas áreas, o psicopedagogo avalia e intervém no âmbito da educação desde idades precoces até à terceira idade, havendo uma grande parceria entre estas disciplinas.
De forma geral, o psicopedagogo é procurado em situações de: a criança não seguir as instruções orientadas pelo professor; não realiza apontamentos pertinentes na sala de aula, baixo rendimento académico, dificuldade na leitura de acordo com a sua idade, interrompe constantemente dispersando a atenção dos colegas e das atividades dirigidas pelo professor; negação em ir para a escola ou na realização de atividades que promovam a sua aprendizagem; o professor manifesta preocupação no rendimento académico do aluno nas práticas grupais e individuais.
Nos casos em que há suspeita de algum transtorno específico por parte da criança: défice de atenção, hiperatividade, sintomatologia depressiva/ansiosa, situações de luto, limitação cognitiva, o psicopedagogo pode encaminhar para o psicólogo realizar uma avaliação psicológica e se necessário o aluno pode beneficiar de apoio psicológico ou terapia farmacológica (pedopsiquiatria). Portanto, se o problema for específico do meio educacional será conveniente utilizar a ajuda do psicopedagogo, se tiver a ver com processos psicológicos, será mais apropriado procurar um psicólogo, mas também é necessário ter atenção que estas lacunas a nível da educação podem ter por base um compromisso psicológico.
Estas duas disciplinas trabalham lado a lado, complementando e combinando as diferentes competências para resolver os possíveis problemas nos processos de ensino/aprendizagem para a melhor integração do sujeito.